VIDA PRODUTIVA, VIDA VIRTUOSA

     
     Há em nós a sede pela perfeição. Parece que desde a mais tenra idade carregamos a dificuldade de receber correções. As repreensões passam a ser percebidas com negatividade, o que nos cega quanto a nossa humanidade. Acompanhando a isso, a pressão com que tomamos as "chamadas de atenção" nos impede de observar as oportunidades para crescimento pessoal, com as devidas necessidades de investimento, e traz certo pesar à vida, já que se torna recorrente o comportamento que busca aprovação constante do outro e uma autocrítica desatenta ao 
      É verdade que estamos inseridos numa sociedade capitalista cujas exigências ignoram a imperfeição humana e cujo rigor visa resultado, gera um alto nível de rigidez e competitividade que estão presentes não apenas no mercado de trabalho, como também nas relações. Passar no crivo do outro (qualquer que seja esse outro, tomando-o num nível hierárquico ou não) passa a ser como que viral para nossa existência. Apesar de cada vez mais comum, isso é enormemente angustiante. E é curioso perceber que, mesmo que critiquemos, esse comportamento é comum na vida: no momento de escolher com quem relacionar-se afetivamente, na educação de filhos, nas atividades que possuímos, na profissão, no casamento...
     É possível alcançar equilíbrio? A pergunta é pertinente, pois não podemos abrir mão do capricho e do cuidado ao realizar nossas tarefas e em quaisquer outras áreas da vida. A verdade é que não sabemos lidar muito bem com as nossas restrições, adoecemos com isso. Tudo à volta pede pressa, ignora a alma; o tempo devora; o mercado demanda...; o corpo, além de tudo, tem que ser perfeito; o estresse nos engole; o trabalho vicia – nem sempre por amor, mas, por vezes, para fugir das inquietações internas e conter as dores dos "afetos perdidos", desordenados, mal resolvidos, bem como de outras perdas que fazem parte da 
     Como resolver isso? O equilíbrio está no alcance de uma alma virtuosa. Pode parecer bela a expressão, contudo, é preciso empenho de nossa parte, mas esse é de uma natureza cujo resultado vem no alívio para o coração e seu prazo é longo, ou melhor, não tem vencimento. São inúmeras as virtudes, mas a da hora e vez é a diligência (virtude do cuidado)! A voz dessa virtude quer nos ensinar que muito pouco nos é necessário, sendo possível cumprir com demandas sem a fome descontrolada pelo perfeito – o qual nunca fará parte de nossas ações, a não ser a caminhada em direção a ela, como que subindo uma escada espiral. Afinal, virtude é aretê, busca de uma excelência na medida certa, daquilo que é “bom para o homem, na vida particular ou na vida pública”, como expressou Platão. 
      A diligência (o cuidado) é, acima de tudo, saúde, porque o contrário da entrega à preguiça. É competência, esforço “daquele que ama”, ama suas tarefas, ocupando-se delas com destreza, ama aquilo que é seu, acima de tudo, ama a si mesmo. A suavidade da diligência leva uma pessoa a faxinar sua mente e a buscar, em tudo, o bem estar, isto é: nada de exagero.
     O diligente aplica seus saberes à sua  vida prática. Pensando numa grande corporação - como empresas e outros tipos de instituições - a diligência resulta em qualidade porque se encontra no investimento de esforço e de tempo (mas apenas o devido, nada mais, nada menos).
     Essa virtude do cuidado também nos pergunta se realmente fazemos o que gostamos, pois, caso contrário, entramos no processo de postergação (quando a gente adia as coisas). Isso nos adoece e adoece também quem estiver ao nosso redor. Por fim, essa é uma virtude que nos ensina, também, que cada coisa, a seu tempo, toma seu devido lugar. Além disso, ensina que os resultados alcançam o esperado quando se entende que dar o melhor de si não é se esgotar, se gastar todo, mas esgotar as possibilidades dentro do alcançável para nós mesmos e do possível. O mesmo serve para nossas relações – diminuir as exigências torna a convivência mais leve e torna a paz algo possível, fazendo com que "o todo" de nossa existência se traduza numa vida produtiva.
Suelen Nery dos Santos

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