...tempo...


Duração ou grandeza incomensurável. Começo, meio e fim. Vinte e quatro horas. Esperança. Cura. Apego. Confiança. Paciência. Encontros. Despedidas. Tudo isso e tantas outras palavras podem quantificar, qualificar e∕ou definir tempo. Há inúmeras músicas que citam a palavra como “sucessão dos anos, dias, horas”, como algo que “envolve a noção de presente, passado e futuro” – conforme nos delibera o dicionário; além de propor outras explanações. Posso afirmar que a de que mais gosto é que afirma o tempo como “momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize”...

Certo é que, para nós, tempo costuma ser, corriqueiramente, apenas algo que urge, que não para, “que acelera e pede pressa”. Essa é a definição do tempo kronos, palavra grega que alude a uma divindade da mitologia grega. Esse mesmo deus tinha medo de perder seu trono, então devorava todos os seus filhos ao nascerem. Alguma semelhança com o modo segundo o qual o tempo se mostra para nós?! Porque afinal, o tempo se assemelha com algo que, se não atendido, parece querer nos engolir. Mas será que não podemos pensar na cura e na união como propostas do tempo para o ser humano? Sendo assim, passaríamos a aludir ao kairós, “momento oportuno, certo” (também uma divindade grega, Kairós seria o afrontador de Kronos). A cronologia é a duração que deve, então, ser vencida pela “ocasião apropriada”.

Como se faz isso se nos deixamos vencer pela ansiedade que consome ao invés alimentar a alma? Ela demonstra uma aspiração sofrida, um desejo aflitivo que traz malefícios ao corpo, à mente e ao coração. Contudo, mesmo com essa comitiva, ela persiste e o faz por meio de ações impulsivas, seguidas de uma série de malfeitos, porque acompanha o sentimento de que se pode controlar e dominar todas as coisas – algo que a vida, através do kairós, nos mostra: não conseguimos fazer. Esse tempo, se bem compreendido e acolhido, apazigua a ansiedade.

Sendo assim o tempo, enquanto “ocasião adequada, oportuna”, pode ser um “senhor tão bonito” que anuncia chegada – de pessoas, de novos momentos, de possibilidades, de... oportunidades. Pode também, em toda a sua trama, anunciar partidas, choros, resultando naquilo de que menos gostamos de falar: sofrimento. De modo geral, a cultura ocidental não sabe lidar bem com o sofrimento, pois o tem tão somente como desgraça, como combustível das perguntas: “Por que comigo?!” ou “O que foi que eu fiz para merecer isso?!”. Ele causa desconforto mesmo, pois lembra ao homem da sua vulnerabilidade, da sua finitude, fazendo cair o mito do seu tudo poder, saber e resolver. Independente desse emaranhado de sensações e acontecimentos que o tempo pode trazer, existe uma necessidade de, nas palavras de Caetano Veloso, “entrar num acordo com o tempo”, a fim de esperar o momento propício: para reconciliações, reaproximações, pedidos de perdão – de liberação do mesmo –, elaborar perdas, permitir despedidas e acolher encontros, crescer profissionalmente e fazer o que se ama, compreender e abrigar limitações [próprias ou alheias], aprender a sonhar novamente mesmo após algum tipo de fracasso, trabalhar culpas e aceitar-se após os erros, aprender a não desistir (inclusive de si mesmo), alcançar flexibilidade, aprender a rir de si, acatar o próprio tempo com paciência, perceber novo amor e permitir-se sempre amar novamente, aprender a “conduzir o tempo de amar, amar devagar e urgentemente”, “descobrir o tempo de refazer o que se desfez” – bem como superar a impossibilidade do refazer.

Tempo! O tempo pode ser o senhor de tudo, mas, para os que crêem, Deus é o Senhor do tempo. Tenhamos o tempo como grande aliado, como aquele que permite chegar, com suavidade, a “ocasião da delicadeza” na qual podem ocorrer encontros, aprendizados, ganhos. É preciso desvencilhar-se de algumas coisas pelo caminho a fim de poder acatar a incidência da oportunidade com o preparo, “momento adequado para que se realize alguma coisa”. Aprendamos a administrar a amizade com o tempo para colhermos os frutos que dessa amizade decorrem. “Tudo tem seu tempo e para cada coisa há um momento debaixo do céu”.
Suelen Nery dos Santos

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