"Todos dizem eu te amo"



“Todos dizem eu te amo” é o nome de um dos filmes do fabuloso – adjetivo de opinião bastante pessoal, é verdade, mas que ouso utilizar mesmo assim – cineasta americano Woody Allen. É também o título escolhido para o presente texto. Foi o nome que veio à mente após umas semanas assistindo ao final de filmes da categoria comédia romântica. Ocorreu-me que a frase “eu te amo” era dita facilmente após umas duas semanas de convívio entre os personagens principais. É preciso dizer que duas semanas é um período até longo, há filmes nos quais ouvimos essa mesma expressão entre personagens que convivem há apenas cinco dias. Não é intenção aqui adentrar na crítica a esses mesmos filmes, pois sabe-se que os tais objetivam entretenimento, com todas as suas peculiaridades – inclusive possibilidade fantasiosa, por haver certo êxtase que a acompanha.

O filme que leva o nome supramencionado reserva, por certo, as devidas críticas de seu diretor no tocante às constantes decepções amorosas e à busca por um parceiro ideal. Há, para tanto, plausíveis afirmações da psicologia sobre a questão, bem como explicações filosóficas e esclarecimentos teológicos. As definições psicológicas e filosóficas se aproximam bastante ao expressar que “amar é buscar o que nos falta, acabar com a carência da alma, procurar aquietar o que tanto nos alardeia: o vazio do espírito humano” (palavras da jornalista Talita Cícero numa das edições da revista Filosofia – ciência & vida). No âmbito teológico pode-se perceber o seguinte sendo dito: amar não é somente necessitar do outro numa espécie de utilitarismo. Talvez duas das maiores definições bíblicas de amor encontram-se, respectivamente, ditas pelo evangelista João (Deus enviou seu Filho ao mundo por amor, em 3.16) e pelo apóstolo Paulo nas famosas palavras de I Coríntios 13 ("o amor é paciente, benigno, não arde em ciúmes, não é orgulhoso e nem se ensoberbece, não se conduz de maneira inconveniente, não procura os seus interesses, não é arrogante, nem suspeita mal").
Acredito não haver como fugir do fato de que buscamos no outro o suprimento de nossas carências afetivas e espirituais. Contudo, é possível desenvolver a metanóia [mudança de mente] a partir de uma linha comum a atravessar cada um de nós em nossas relações: o alcance do equilíbrio, através da compreensão de que nossa busca pelo que falta não se encontra em ser humano algum e que também não é amor a tentativa de equilibrar-se no outro, numa anulação de toda a existência individual e pessoal. 
Todos podem dizer “eu te amo”. Mas ao dizer isso será que se está amando mais o objeto do desejo do que o próprio desejar? Será que não se está amando “a coisa outro” (nas palavras do filósofo Fábio Maimone)? Santo Agostinho, assim como Aristóteles com relação à amizade, afirma haver diferentes amores para diferentes objetos. De fato, podemos estar cientes de que não amamos a todos de maneira igual, mas também que essas diferentes intensidades do amor são desenvolvidas conforme a profundidade da admiração e do espanto (pathos) que se tem com relação ao outro. Marcelo A. de Oliveira, diretor de uma escola de Filosofia em São Paulo, afirma que “o verdadeiro amor é desenvolvido para que as pessoas vivam de uma maneira melhor, com justiça e amizades verdadeiras”.
O que acontece então naquele encontro com outro alguém a respeito do qual surge uma atração imediata e uma admiração quase que idealista? O que ocorre nessa imediatidade – que até pode levar a dizer “eu te amo” em apenas algumas horas ou em poucos dias –, sem o processo gradual e∕ou evolutivo que acompanha o amor, na maior parte das vezes, é a paixão. O problema não é vivenciá-la, afinal sua sensação é extremamente agradável, o problema está em nossa carnalidade. A “coisa física” imobiliza, desequilibra, irracionaliza, é transitória, busca a outra metade – essa, inexistente simplesmente pelo fato de não sermos metades, e sim, inteiros. O amor, em seu verdadeiro sentido, é equilibrado e supera o corpo, “é uma vontade de saber mais”, segundo Maimone. O amor é aprendizado, enxerga valores para além das aparências. Estamos numa era em que os relacionamentos são difíceis por haver muito pouco de partilha de sonhos, de ideais, de pensamentos, do que se é de fato e da prisão muito mais ao corpo que à alma. Que nossa escolha seja pelo caminhar no amor para além de toda a superficialidade presa ao que nossos olhos veem!

(Suelen Nery dos Santos)

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